25 nov 2015

A Alemanha e a questão dos refugiados

6240707542_2dbd88d10c_bTodos os dias, os imigrantes ilegais que partem principalmente do Oriente Médio e da África rumo à tentativa de uma vida melhor na Europa são noticiados nos principais jornais do Brasil. Apesar de o tema ser tão recorrente, pouco se sabe sobre o tratamento dado a esses refugiados, quero dizer: onde ficam, se estudam, como são mantidos, se sabem onde estão as famílias, etc.  

Recentemente estive na Alemanha e queria contar a experiência que tive ao ser professora assistente por um dia numa turma de língua alemã para refugiados, na cidade de Hamburgo. A classe era composta unicamente por meninos, todos adolescentes e menores de idade, vindos de  países como Afeganistão, Albânia e Egito. Segundo a professora regente, a causa para a sala ser completamente masculina deve ter a ver com a maior resistência física que homens geralmente possuem para uma travessia como essa. Acho importante deixar claro que há muito dinheiro e muito recurso humano sendo investidos para tornar a vida deles menos sofrida.

A turma, que é completamente heterogênea em termos de nível da língua, tem aula de alemão todos os dias da semana em uma escola pública profissionalizante que cedeu salas e professores para esses meninos. Há desde aqueles que não sabem nada e precisam ler em voz alta sílaba por sílaba para entender uma palavra até o nível A2, aproximadamente. Do ponto de vista dos professores, há um movimento muito forte de união e compartilhamento de informações sobre didática de ensino de alemão como língua estrangeira e alfabetização. Isso porque muitos deles nunca deram aulas para turmas não alfabetizadas.

Os desafios dos docentes são imensos e a necessidade desses jovens de aprender alemão, urgente. Os meninos, no caso dessa turma, não falam inglês. Por isso, é necessário que todos consigam se comunicar minimamente em alemão mesmo. E é possível! O ritmo da aula, claro, é mais devagar, nem todas as atividades planejadas são cumpridas num mesmo dia. As professoras precisavam consultar algumas palavras no tradutor e mostrar no projetor nos idiomas falados pelos meninos, mas todos conseguiram ler um texto e fazer exercícios sobre Perfekt, o passado simples do alemão. Cada um no seu ritmo, com a ajuda dos colegas e das docentes. Mas qual professor não precisa mudar suas estratégias conforme as respostas da turma, não é mesmo? Isso só me provou a ideia que todo professor tem: todos são capazes de aprender, apesar das dificuldades.

Dentro da sala naquele dia estavam presentes pessoas que possuem seis línguas maternas diferentes, contando as professoras – português, no meu caso, alemão, no dela. O mais estranho e bonito nisso tudo é que um interesse comum movia todos que estavam ali e continuam a estar todos os dias: falar um idioma que, nesse caso, pode ser um divisor de água na vida desses alunos.

Dá até vontade de ser professor, não? No próximo post voltaremos aos conteúdos de língua ou cultura alemãs, ok?